
Uma Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, trouxe reflexões importantes sobre o comportamento dos jovens condutores no trânsito.
Com o título “Práticas parentais, impulsividade e comportamento de jovens condutores”, o trabalho apresentado pela Mestra em Psicologia Josiane Regina Krupiniski, demonstra que as condutas dos motoristas começam a ser moldadas muito antes de estes aprenderem a dirigir.
Jovens são mais vulneráveis no trânsito
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,9 milhão de pessoas devem morrer no trânsito em 2020 e 2,4 milhões, em 2030 se nada for feito a respeito. Nesse período, entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas sobreviverão aos acidentes a cada ano com traumatismos e ferimentos.
O contexto brasileiro mostra um número alto de mortes de jovens em acidentes de trânsito, ganhando destaque como a população mais vulnerável ao risco de sofrer algum dano no trânsito. Indivíduos com idade entre 15 a 29 anos de idade têm sido frequentemente descritos entre as principais vítimas e causadores de acidentes de trânsito.
A importância do tema é grande: Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no Brasil o custo dos acidentes de trânsito, em rodovias, fica em torno de R$ 40 bilhões por ano e de R$ 10 bilhões, em áreas urbanas.
Com vista a estes indicativos, Krupiniski percebeu que os números vão além da contabilização das mortes, e apontam as características de sociabilidade nas vias públicas, abrindo um questionamento sobre como estes jovens estão se comportando no trânsito. Uma pesquisa foi conduzida com jovens universitários através de questionários sobre o comportamento deles no trânsito e sobre o comportamento dos pais em casa, trazendo dados interessantes para o estudo, como veremos adiante.
O que torna os jovens mais imprudentes?

Os estudos trazem informações de 2018 apresentados pela Academia Americana de Pediatria que defendem que adquirir o direito de dirigir é um rito de passagem na vida do jovem, pois sinaliza independência. O problema é que os jovens estão especialmente expostos a situações de risco que refletem sua inexperiência, tais como: vulnerabilidade para distração, prevalência em dirigir em alta velocidade, consumir bebida alcoólica ou outras substâncias psicoativas e não usar o cinto de segurança. Além destes, há outros fatores como a maturidade ainda em formação de habilidades cognitivas para a segurança viária (varredura visual, tomada de decisão, manuseio do veículo) e a suscetibilidade às influências de amigos e familiares.
Dentre todos estes fatores de influência, a pesquisa destaca que o ambiente familiar em que estes jovens cresceram, o estilo e práticas parentais a que o indivíduo está exposto na construção de seu repertório comportamental, é de grande importância.
Onde começa a ser formado o motorista
É de conhecimento amplo que influência dos pais no comportamento dos filhos pode ser observada em vários aspectos como, por exemplo, hábitos alimentares, de higiene e socialização. Será que o mesmo acontece no comportamento no trânsito?
A pesquisa conduzida por Krupiniski avaliou as correlações do comportamento dos pais com a impulsividade e comportamentos de direção em uma amostra de 308 jovens adultos entre 18 e 29 anos de idade.
Os resultados indicaram que práticas parentais negativas paternas, mesmo que ainda na infância dos filhos, favorecem o desenvolvimento da impulsividade, ou seja, influenciam na imprudência futura dos filhos ao volante. O estudo sugere que programas de práticas parentais e controle de impulsividade para jovens motoristas poderão reduzir os índices de acidentes de trânsito.
Segundo Krupiniski, “a relação harmônica entre pais e filhos, assim como a atitude dos membros da família direcionada à segurança no trânsito, contribuem para que o jovem se comporte de maneira prudente no trânsito; tendo os pais a influência positiva considerável para garantir o comportamento seguro ao limitar o acesso ao veículo em situações que o jovem não esteja preparado e modelando comportamentos de direção seguros”, afirma a Mestra.
Isso significa que não se trata apenas de dar o exemplo no trânsito quando estiver com as crianças no carro, mas em todos os momentos, mesmo fora do trânsito, pela importância da família enquanto modelo de comportamento para o jovem, bem como para a transmissão de regras e limites que podem favorecer ou prejudicar sua segurança no trânsito.
“O efeito das práticas educativas parentais é refletido no comportamento de dirigir de forma que o jovem aprende ou não a controlar os impulsos, planejar suas ações e ter mais atenção durante a condução de um veículo. Sendo assim, formulação de políticas públicas voltadas para a educação de trânsito, como também programas de práticas parentais e controle de impulsividade para jovens motoristas se fazem importantes para promoção de segurança no trânsito”, concluiu a autora do trabalho.
Escrito por: Amanda Silva